Meia vive seu melhor momento no Tricolor, ganha a confiança de Muricy e, mesmo com a campanha ruim da equipe, vem jogando bem.O maestro voltou. Livre das lesões que tanto o atrapalharam nos últimos anos, Paulo Henrique Ganso começa a dar o que falar no São Paulo. A canhota poderosa e a intimidade com a bola brilham novamente. E o futebol, mesmo ainda não sendo o da época do Santos, arranca aplausos dos torcedores. Com um ano de Tricolor nas costas, o meia corre contra o tempo e aposta que tem bola suficiente para convencer Luiz Felipe Scolari e, na reta final, garantir uma vaga na Copa do Mundo do ano que vem.
Ganso quer recuperar na seleção o espaço que começou a ganhar em agosto de 2010, quando Mano Menezes iniciou a reformulação logo após o Mundial da África do Sul. Naquela época, dez em cada dez brasileiros apostavam no então craque santista como o camisa 10 do time em 2014. No entanto, a história mudou.Três anos se passaram e a estrela perdeu o brilho. Ofuscado pelo parceiro Neymar, sofreu com a sequência de contusões e virou coadjuvante no Santos. Na seleção brasileira, pouco fez na Copa América de 2011 e nas Olímpiadas de Londres e viu Oscar virar a referência no setor de criação.
O gênio exaltado pela massa alvinegra virou "persona non grata" a partir de 21 de setembro de 2012, quando o São Paulo anunciou sua contratação. Um dos muros do CT Rei Pelé, que exaltava a joia trazida por Giovanni, acabou pichado. E, um ano depois de vestir a camisa 8 que já foi de Toninho Cerezo e Kaká, pode-se finalmente dizer que Ganso começa a mostrar o futebol que fez o São Paulo desembolsar incríveis R$ 23,9 milhões, a negociação mais cara da história do clube do Morumbi.
Nas mãos de Muricy Ramalho, virou titular inquestionável pela primeira vez. Com liberdade para criar, o meio-campista tem mostrado uma face que poucos conheciam. Além de deixar os companheiros na cara do gol, ele se movimenta pelos dois lados, faz desarmes como marcador e até ajuda no jogo aéreo defensivo. Quem gosta de futebol, não hesita em afirmar: hoje, Ganso vive seu melhor momento no São Paulo.
Em entrevista ao Esporte Espetacular, o meio-campista falou sobre tudo: fez a avaliação de sua primeira temporada no Morumbi, contou sobre a alegria de voltar a trabalhar com Muricy Ramalho e, principalmente, deixou claro que, sem lesões, é possível sonhar com a Copa e, com a camisa amarela, reencontrar o grande amigo Neymar, hoje estrela do Barcelona.
- Maninho, pode esperar que eu tô voltando - afirmou um esperançoso Ganso.
Após um ano de São Paulo, que avaliação você pode fazer do seu momento?Paulo Henrique Ganso - Me sinto muito bem. Quando você joga sem dor, sem preocupação, é a melhor coisa do mundo. Hoje só entro em campo pensando em ajudar o São Paulo. Jogo tranquilo, com a musculatura forte e apenas desenvolvendo o meu futebol.
Então você já jogou com medo?Ah, sim. Quando sofri aquela sequência de lesões no Santos, era difícil no momento de voltar. O medo de machucar incomodava demais. Cheguei a pensar que era algo psicológico. Afinal, isso não saía da minha cabeça na concentração e nem quando ia para o jogo. Mas tudo passou e agora estou tranquilo.
Qual foi sua reação quando ficou sabendo da contratação do Muricy?Foi uma alegria muito grande saber que voltaria a trabalhar com ele dentro de um clube no qual ele foi muito vencedor. Também ficou a tristeza pela saída do Paulo Autuori, que foi um dos melhores treinadores com quem trabalhei, apesar de terem sido apenas dois meses.
Após ter trabalhado com ele no Santos, vale fazer a comparação: ele mudou muito?Acho que ele está mais maduro (risos). O Muricy conquistou muita coisa na carreira e isso dá uma tranquilidade a mais para que ele passa trabalhar e ficar mais calmo com a imprensa (risos).
O que você viu de tão especial no Paulo Autuori?
Ele é um cara que conhece muito. Pedia para o time sempre atuar organizado, independentemente do momento da partida. Mas no futebol é assim, quando os resultados não aparecem, o treinador sempre muda.
E sobre o Ney Franco, o que pode falar?
Ele teve problemas extracampo com alguns jogadores e com a diretoria, o que acabou o tirando do São Paulo. Esses problemas refletiam no campo, o time não vencia e a diretoria acabou mudando o técnico.
Observando o seu campo de participação nas partidas contra Coritiba (comandado por Autuori) e Vasco (comandado por Muricy), é nítida a sua evolução com o atual técnico. Isso tem alguma explicação?
A confiança que o Muricy tem no meu futebol ajuda muito. Isso se reflete a todo instante. Ele me deixa jogar livre, só na hora que precisa ajudar a marcação é que tenho de ocupar espaço para ajudar na recomposição. Com o Muricy, fiquei muito mais à vontade dentro de campo.
Esse crescimento no São Paulo te permite sonhar com a seleção brasileira?
Sem dúvida. Seleção significa o auge do jogador, o momento único na carreira de qualquer um. Tem de tratar com carinho para poder voltar. É a namorada que a gente já teve, perdeu e trabalha duro para reconquistar.
É possível pensar em Copa? Faltam apenas oito meses.
Estou com muita saudade de vestir essa camisa. É possível estar na Copa, o Felipão vem dando oportunidade a todos os jogadores. Mas também tenho de manter o foco no São Paulo, que ainda precisa melhorar no Campeonato Brasileiro.
Você consegue explicar rapidamente a sua saída do Santos?
Houve uma briga entre a diretoria e o Paulo Henrique Ganso. Ficou uma tristeza, afinal cheguei ao Santos aos 15 anos, passei sete, oito anos maravilhosos, conquistei muita coisa. Mas agora é passado e tenho muita felicidade de estar em um clube como o São Paulo.
Em algum momento você chegou a ser ameaçado no Santos?
Não.
Mas o episódio da chuva das moedas e do muro pichado no CT Rei Pelé o magoaram?
Chuva de moeda deixa qualquer um triste. Mas foi algo de momento. Sei o que fiz, da história que construí. Foram muitas coisas boas que ficarão guardadas na mente.
Além de tudo que você fez dentro de campo pelo Santos, ficou marcado também o episódio ocorrido na final do Campeonato Paulista, quando você se recusou a sair de campo quando o técnico Dorival Júnior indicou a substituição.
Sem dúvida, hoje vou te dizer que não repetiria o que fiz. Foi uma decisão de momento, a responsabilidade foi muito grande. Não me arrependi porque deu certo. Mas, se aquele lance do Santo André no fim da partida tivesse entrado (a bola bateu na trave), o mundo tinha caído na minha cabeça e poderia ter mudado a minha carreira.
Falando sobre sua época de Santos, como está a convivência com seu "irmão mais novo", que hoje joga no Barcelona.
Conversamos bastante, toda a semana. O moleque está feliz demais e isso me deixa orgulhoso.
Se dentro de campo, as coisas começam a funcionar, fora das quatro linhas você vive um momento muito especial certo?
Ah, sim, hoje estou casado. Aliás, muito bem casado. A Giovanna é uma pessoa fantástica, veio para completar minha vida e cuidar de mim. Até brinco com todo mundo, se soubesse que casar era tão bom, tinha casado antes.
Qual o objetivo para este segundo semestre?
Conseguir terminar o ano sem lesões e, se possível, com o bicampeonato da Copa Sul-Americana pelo São Paulo.
Você acha que hoje as pessoas que tinham dúvida sobre o seu futebol estão mudando de ideia?
Acho que sim. Quando vim, a dúvida era grande, mas hoje todo mundo está vendo que cheguei para ajudar o São Paulo. Trabalhei muito para isso e ainda falta para chegar ao Paulo Henrique de antes.